Tenho a “estranha mania de ter fé na vida”, como diz na música
de Milton Nascimento. Não sou Maria de nome, mas sou de coração, por ser
brasileira e por ser mulher.
Essa mania de acreditar na vida já me rendeu alguns prejuízos.
Nasci em São Paulo, cidade grande e perigosa, aprendi desde
cedo a ter medo, a não falar com estranhos, a não reagir em caso de assalto, não
olhar nos olhos do assaltante e tudo mais que é preciso para sobreviver em uma
cidade violenta como essa.
Já tive faca apontada para o meu pescoço e não reagi, já vi
muita gente ser assaltada na minha frente e não fiz nada por medo, já fui
furtada em ônibus e metrô. Tudo isso é rotina por aqui e sou considerada
sortuda, diante de tantas histórias cruéis!
Essa semana eu fui vítima de um golpe justamente por essa
mania de acreditar nas pessoas.
Estava de carro na Avenida Vereador José Diniz ás 14 hs e parei
no cruzamento com a Rua Edson, onde tem um farol. Na esquina havia uma moça
muito bem vestida, com cara de desespero e veio em minha direção pelo lado do
carona. Ela me disse:
- Desculpe por te abordar assim, estou morrendo de vergonha! É
que meu carro quebrou aqui nessa rua e ligo pra casa e ninguém atende e eu
estou sem nenhum dinheiro e preciso de R$27,00 pra pagar o conserto... É um caninho que quebrou... Não sei se já
aconteceu isso com você...
Nessa altura eu já estava pegando o dinheiro na bolsa (ela estava com lágrimas nos olhos) e tinha
exatamente R$27,00 que ela pediu, senão teria dado mais. Ainda desejei boa sorte,
o farol abriu e fui embora.
A tática dela era falar bem depressa, nervosa,
sem dar tempo para o outro pensar.
Fui embora e me perguntei: o que aconteceu, afinal? Foi um
assalto ou ela precisava mesmo de ajuda? Deixei pra lá e segui meu caminho.
Mais tarde em casa, me lembrei de já ter visto essa moça no
mesmo lugar alguns meses atrás. Eu estava uns três carros atrás do assaltado, o
primeiro na fila do farol. Vi que ela falava com o motorista e pensei:
- Será
que é assalto?
Conclusão: vesti a carapuça de “otária”! O pior é que não é a
primeira vez que me acontece algo assim, inclusive no Facebook já caí na
conversa de uma moça que dizia estar com câncer e sem dinheiro para comprar os
remédios. Quem não ajudaria?
Não é nada boa a sensação de ter sido passada pra trás, levada
na conversa. Não irei mudar meu jeito de ser por causa disso, mas estarei
mais atenta.
No final das contas ela precisava daquele dinheiro, talvez para
drogas, bebidas ou talvez para comprar leite para os filhos, vai saber!
Fica o alerta, gente!